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O desenvolvimento do item, chamado de luva GrovETE, teve início em junho de 2023 e envolveu, inicialmente, quatro estudantes e dois professores da escola (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal) |
Uma luva com objetivo de estabilizar os tremores causados nas mãos pelo Parkinson foi desenvolvida por alunos da Escola Técnica Estadual Paulo Freire, em Carnaíba, no Sertão de Pernambuco.
O desenvolvimento do item, chamado de luva GrovETE, teve início em junho de 2023 e envolveu, inicialmente, quatro estudantes e dois professores da escola.
A luva foi desenvolvida pelos estudantes Felipe Santos, Gustavo Henrique, Danilo Lima e Rayane Morais e contou com a supervisão dos professores Gustavo Bezerra e Carla Robécia. A ferramenta está na fase final de aperfeiçoamento e custa bem menos que outras luvas disponíveis no mercado.
“A ideia surgiu a partir de uma conversa informal num grupo de robótica, onde eu, como professor, relatei aos estudantes um problema que estava vivendo na família envolvendo a doença de Parkinson e a gente estava buscando tratamentos para ela na região e no Recife. Então, a partir dessa problemática apresentada aos estudantes no grupo de robótica, eles pensaram numa alternativa de utilizar a robótica para tentar sanar essa necessidade”, conta o professor Gustavo Bezerra.
Ainda de acordo com Gustavo, “inicialmente foi preciso realizar um estudo sobre a doença de Parkinson para entender melhor como é que ela atinge a população e, nessas pesquisas, verificou-se que 90% dos portadores da doença apresentam sinais na mão. E nesse problema, o portador tem dificuldade até de segurar uma xícara ou uma colher, dificultando a realização de atividades básicas no cotidiano, como se alimentar. Então, a partir dessa problemática, veio a ideia do desenvolvimento da luva utilizando alguns princípios de robótica e de física”.
Os estudantes conseguiram aplicar na luva os conhecimentos que possuem sobre circuitos elétricos e componentes eletrônicos.
“O que mais me surpreendeu na elaboração da luva foi ver a dimensão, porque ao iniciar as pesquisas sobre o projeto, eu não conhecia, eu não sabia sobre Parkinson, não sabia o problema que a gente ia resolver e eu também não sabia muito de tecnologia. Quanto mais a gente pesquisava, mais a gente descobria, mais a gente conseguia incrementar algo na luva e na nossa pesquisa”, conta a estudante Rayane Morais.
Os alunos desenvolveram o projeto no laboratório de robótica da escola e utilizaram itens como impressora 3D, furadeiras e uma microrretífica, ferramenta elétrica capaz de perfurar, escavar, cortar, lixar e polir materiais e superfícies em pequena escala.
Além disso, outros materiais foram adquiridos por professores da escola que engajaram os estudos do projeto. O equipamento desenvolvido pelos alunos é formado por uma luva de academia, um disco HD, regulador de energia e arduino, uma placa programável. Segundo o professor Gustavo, o HD é utilizado como um giroscópio e estabiliza as mãos quando gira em alta velocidade.
“O funcionamento da luva se dá a partir de um circuito. Nesse circuito, a gente tem um Arduino ligado a um potenciômetro, um ESC e um motor de HD de computador. Então, a partir de uma passagem de corrente elétrica, esse motor vai girar em alta velocidade, cerca de 7000 RPM, fazendo com que busque estabilizar o movimento da mão e, dessa forma, evitar os tremores involuntários”, completa o professor.
Para desenvolver a luva, os estudantes e professores precisaram investir R$ 92, um valor bem abaixo do normalmente utilizado por empresas que fabricam este tipo de utensílio, que pode chegar a R$ 8 mil. Quando a luva GrovETE estiver pronta para comercialização, poderá se tornar uma opção mais acessível, chegando a custar R$ 200 no mercado, facilitando a vida de diversas pessoas diagnosticadas com o mal de Parkinson.
O protótipo ainda precisa de algumas adaptações, como aprimorar a autonomia da bateria e substituir o tipo de Arduino utilizado. Esta última, é uma plataforma programável de prototipagem eletrônica de placa única e hardware livre, que permite aos usuários criar objetos eletrônicos interativos e independentes.
A primeira luva foi feita por alunos que já concluíram o Ensino Médio e não estão mais na escola. Agora, outros três estudantes compõem o projeto, são eles Ângela, Eduardo e Vitor Gabriel.
Mesmo estando em sua fase inicial, a luva GrovETE alcançou o primeiro lugar no QCiência, elaborado pelo Departamento de Química da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e também no Ciência Jovem, promovido pelo Espaço Ciência. Além disso, ela ficou entre os 50 melhores projetos no ranking do Prêmio Solve For Tomorrow, da Samsung, e foi vice-campeã no Startup Day, do Sebrae.
“O incentivo da escola nos projetos é muito importante. Não só a instituição incentivava a gente, mas outras pessoas também. Se uma escola quer ser reconhecida, ela deve se destacar com projetos, pois isso atrai muitos alunos. A valorização que a escola dá para o ensino e para projetos, é muito importante em todos os sentidos”, afirma Rayane Morais.
A doença de Parkinson ocorre quando há uma diminuição na produção de um neurotransmissor chamado dopamina. Quando a dopamina não está presente no corpo, há um grande comprometimento no sistema nervoso central, que aumenta conforme os anos passam e afeta todas as áreas do corpo. No Brasil, estima-se que 200 mil pessoas sofram com o problema.